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Campo Grande sem ônibus articulado: uma realidade muito próxima.

Ônibus articulado, um tema recorrente no nosso blog. Há muito tempo que na ânsia de cortar cada vez mais gastos, o Consórcio Guaicurus vem reduzindo a circulação destes pela cidade, e agora, na gestão de Alcides Bernal e do diretor presidente da Agetran, Elídio Pinheiro, encontraram as condições ideais para ir sumindo com eles.  As tentativas e os boatos são antigos, em 2011 as empresas já começaram a reduzir a circulação deles, até que em 2014 aposentaram 12 destes veículos substituindo-os por 24 ônibus convencionais, deixando as linhas 085 (T. Júlio de Castilho/ T. Morenão) e 070 (T. Bandeirantes/ T. Gen. Osório) sem nenhum articulado. Agora, em 2016, foi a vez da linha 081 (T. Nova Bahia/ T. Bandeirantes) perder de vez os articulados, que foram remanejados para nova linha (083 T. Aero Rancho/ T. Nova Bahia/ Expresso) que circula somente nos horários de pico. Mais recentemente as linhas 080 (T. Gen. Osório/ T. Aero Rancho) teve 05 tabelas que rodavam com articulados trocadas por veículos convencionais e em breve a Agetran oficializará o que já ocorre na prática a anos, a circulação da linha 087 (T. Gen. Osório/ T. Guaicurus) com veículos articulados em horários reduzidos. 



Então vamos a alguns esclarecimentos sobre o tema:


Por que os veículos articulados são tão importantes?

O sistema de transporte em Campo Grande é em sua maioria tronco-alimentador, ou seja, os ônibus das linhas alimentadoras circulam pelos bairros levando os passageiros de vários bairros a um ponto em comum (no caso o terminal), onde deverão escolher uma linha troncal que os levarão ao centro da cidade ou outras regiões comerciais de grande demanda. Como os veículos de linhas troncais devem absorver a demanda de vários bairros juntos, era de se esperar que tivessem maior capacidade.

Trocar um articulado por dois ônibus comuns é vantajoso?

Em termos de capacidade, dois ônibus convencionais carregam mais que 1 articulado, mas antes  de terminar de responder esta pergunta, é importante esclarecer que isto não ocorre em Campo Grande. A linha 085 que rodava com 7 veículos articulados, hoje roda a maior parte do dia com 8 veículos convencionais, operando com no máximo 12 veículos em uma pequena faixa de intervalo no pico da manhã. A linha 070 que tinha 9 veículos, sendo 5 deles articulados operando em todo horário comercial, fora os reforços, hoje opera com 11 veículos convencionais. A 087 não recebe nenhum veículo a mais, troca articulado por convencional, e a 081 e 080 continuam com a mesma quantidade de carros, contando com apoio da 083 somente em alguns horários. Ou seja, em termos de oferta de lugares para os passageiros, todas tiveram redução. Mas mesmo que as trocas tivessem sido feitas 2 por 1, não seria vantajoso, pois apesar da maior capacidade de dois ônibus, o menor espaçamento de tempo entre a saída de um veículo e outro não permite a boa distribuição de demanda, sendo comum um deles ficar extremamente lotado e outro vazio. O espaçamento curto também faz com que seja comum um ônibus da mesma linha andar junto com outro, bagunçando todo o horário e criando buracos de intervalos. 

Ônibus articulado foi feito para rodar somente em corredor de ônibus?

Esta é uma das mentiras mais comuns do Consórcio Guaicurus. Não, veículos articulados não foram feitos para rodar só em corredor, aliás, o que mais temos pelo Brasil são veículos articulados rodando em linhas normais, muitas delas entrando até mesmo em bairros com ruas mais estreitas e em piores condições que as ruas que vemos em Campo Grande. Os articulados de carroceria modelo BRT foram desenvolvidas pensando mais no uso em corredores de ônibus, mas há diversas outras carrocerias disponíveis no mercado, mais baratas e adequadas para circulação comum. 

As vias de Campo Grande dificultam a circulação de articulados?

Verdade, porém não é um fator impeditivo para circulação destes. As faixas estreitas na Av. Afonso Pena, os carros estacionados na Av. Júlio de Castilho e as curvas as esquerdas que linhas como 080 e 081 fazem, disputando espaço com carros, realmente complicam a vida dos motoristas de ônibus, mas como foi dito na resposta anterior, não chega a ser impeditivo para circulação dos articulados. Este problema mostra também o total descaso da prefeitura com o transporte público, incapaz de dar o mínimo de prioridade para ele, prejudicando milhares (os usuários de ônibus da Av. Júlio de Castilho) em benefício de poucos (os que estacionam seus carros na avenida).

O consórcio está fazendo uma readequação de oferta e demanda para os horários de maior movimento?

Se fizermos as contas mais detalhadas, veremos que em momento algum foi disponibilizado maior oferta de lugares para os passageiros, todas as mudanças realizadas nas linhas ou diminuiu o número de ônibus total circulando ou a capacidade destes. 

Trocar articulados por convencionais ajuda a tarifa a ficar mais barata?

Não, apenas ajuda o Consórcio a lucrar mais enquanto pode. Hoje a tarifa em Campo Grande é um pouco mais barata que a maioria das capitais da região Centro-Sul do Brasil, mas a diferença é pequena. Porém em Campo Grande não temos cobrador há anos e nossa frota é quase 100% composta dos veículos mais simples, baratos, desconfortáveis e que menos gasta combustível disponíveis no mercado, o que torna a operação aqui muito mais barata que na maioria das cidades. E por fim, é importante lembrar que essa operação de péssima qualidade provoca a já bastante relevante fuga de usuários para o transporte individual (motos e carros), e com menos passageiros pagantes, maior a tarifa.

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