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O abandono do transporte coletivo de Campo Grande

Há tempos que não contamos nenhuma novidade aqui no site. A última, em janeiro, foi para falar de uma nova frota que, dois meses depois, ainda não deu sinal de aparecer pela cidade. A mídia tradicional, todo dia relata uma situação diferente no transporte coletivo, e sempre é uma situação negativa, que prejudica o trabalhador, que depende do coletivo para se deslocar todos os dias, que prejudica o estudante, que precisa se transportar até sua escola, e do cidadão que precisa se deslocar para seus afazeres pessoais.

Veículo ano 2009, usado, ex SP, e ainda em circulação em Campo Grande. Foto: Pedro Verão

Desde a oficialização do Consórcio Guaicurus, um grupo formado por quatro das cinco empresas que operam na cidade desde os anos 90, nós temos visto e anunciado a queda gritante da qualidade do serviço na cidade. 

Em 2014, começaram a retirar veículos articulados de circulação, mas em "contrapartida", trouxeram o dobro de veículos para substituir. O problema? Veículos convencionais, bem menores que os articulados retirados. Saíram 12 articulados, chegaram 24 veículos convencionais. E teve empresa que nem trouxe veículo nenhum para substituir, que foi o caso da Viação São Francisco (com veículos de número 2xxx), que encostou 3 dos seus, na época, 14 veículos articulados, sem trazer nada para substituir.

Em 2018, outro golpe contra o passageiro do coletivo: a substituição de todos os veículos articulados por veículos convencionais, ficando apenas os veículos do modelo BRT em circulação. A justificativa? Não possuírem elevadores de acessibilidade. Porque não foi comprado então, veículos articulados adaptados? O corte na oferta de lugares foi feito com aval do poder público, e de quase 60 articulados em 2013, passamos para apenas 13 em 2018.

Diminuição de veículos em circulação

Mas, antes fosse somente a retirada dos articulados os problemas do transporte da cidade... Desde o início da concessão, o consórcio, lembrando sempre que, com aval da Agetran, ou seja, do poder público, vem diminuindo a oferta para os passageiros. Ou seja, cada vez mais, linhas que circulavam com dois veículos, passaram a circular com apenas um, aumentando o intervalo, ou até mesmo linhas que circulavam com apenas um, passarem a circular apenas em horário de pico, dando no máximo duas, ou três voltas. Sem falar nas linhas que simplesmente deixaram de existir antes e durante a pandemia, que, com o retorno da "normalidade", não voltaram a circular.

Linha 202, que deixou de circular durante a pandemia e não voltou mais. Foto: Alexandre Coelho

Além disso, durante a pandemia, mais de 100 veículos foram "aposentados" sem nenhuma substituição. A frota de ônibus da cidade, que no começo de 2020 era de aproximadamente 545 veículos, hoje está em 450. Uma redução de quase cem veículos em circulação. Mais uma vez, tudo com o aval do poder público

Aporte Financeiro

Durante e depois da pandemia, o consórcio alegou dificuldades financeiras, pedindo o reequilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão, mesmo não precisando, de acordo com perícia realizada a mando do poder judiciário. Mesmo assim, o consórcio continuou alegando dificuldades, e chegou até a atrasar pagamento de salários, em uma ação arquitetada junto ao sindicato, que há muito tempo deixou de representar os interesses dos motoristas. Esse atraso, como consequência, fez com que o trabalhador ficasse sem ônibus por duas vezes em menos de um ano, uma em junho de 2022, e outra em janeiro de 2023.

Diante disso, o município e o estado começaram a subsidiar as gratuidades dos estudantes, repassando valores milionários para a empresa mensalmente, com o argumento de que "sem o subsídio, o cidadão terá que pagar muito caro pelo coletivo", onde chegaram a cogitar uma tarifa de R$ 8 para o transporte. 8 reais!!!

Fiscalização

Muito se questiona se o poder público irá fazer alguma coisa sobre as denúncias que são levantadas quase que diariamente desde que essa empresa assumiu o transporte da cidade. Denúncias essas que se tornaram ainda mais frequentes nos últimos meses. Basta dar uma olhada no site do Midiamax que vocês verão do que estamos falando. Atrasos, superlotação, e veículos velhos ainda em operação. Enquanto o repasse milionário vem acontecendo desde 2022, a frota não é renovada desde 2019, e existem veículos fabricados em 2009 ainda em operação, enquanto que supostamente, o contrato de concessão prevê limite máximo de 10 anos, e uma idade média de 5 anos para a frota, números hoje que estão bem acima do determinado.

Além disso, o contrato também prevê um mínimo de veículos em operação, que é de 575, e como já citamos, hoje temos apenas 450. Reza também uma lenda de que o contrato exige 60 veículos articulados, e hoje temos apenas 13, onde apenas 11 aparecem para circular no horário de pico (e quando aparecem).

Veículo articulado na garagem. Foto: Gabriel Santos

O poder legislativo municipal, sempre que é anunciado um aumento na tarifa, reagem como grandes leões, e falam que vão fiscalizar, vão endurecer a cobrança, mas ficam apenas nas falácias. Nenhuma ação de fiscalização existiu nestes 10 anos pelo legislativo, exceto o trabalho do ex vereador e ex candidato a prefeito da cidade Vinícius Siqueira, que elaborou uma denúncia formal com informações que nós trazemos desde 2013. A ação foi para a justiça, mas até hoje, não deu em nada.

A comissão do transporte então, nem se fala... Vereadores que nunca fizeram nada pelo transporte coletivo, e que eu duvido que tenham entrado em algum ônibus do consórcio nos últimos anos. Dia desses, o vereador Odilon Jr, em meio a todas as reclamações e denúncias que tem sido feitas quase que diariamente, saiu em defesa do consórcio, questionando a veracidade das informações denunciadas"Tiraram mesmo?" A fala do vereador repercutiu negativamente, principalmente para quem todos os dias enfrenta superlotação, atrasos e quebra de veículos constantes, e as vezes, chega até a ficar sem o ônibus, porque ele simplesmente não passa.

Futuro do Transporte

Analisando o cenário atual, é muito improvável esperar alguma melhoria na área nos próximos anos, já que o poder público é totalmente omisso, e só atende os interesses da empresa. Investimentos na área, apenas os corredores, que estão incompletos, gerando transtorno tanto pro passageiro do ônibus, quanto para os motoristas de veículos individuais. Os quatro terminais que foram projetados no PAC lá em 2011, também viraram lenda. O povo também não faz a sua parte, e se contenta com qualquer decisão que é feita na área. Aumentos abusivos, situações degradantes, mas só reclamam em redes sociais, e não fazem nada para que algo seja feito.

A nós, cabe continuar noticiando os fatos do transporte coletivo da cidade. Esperamos que em breve, consigamos publicar com mais frequência, por de fato ter coisas para se informar. Até lá, torcemos para que o poder público finalmente faça a sua parte, e que o povo acorde e comece a reivindicar melhoria no serviço, que não é barato, e que com certeza não condiz com o que é pago.

Comentários

  1. Realmente, é um descaso absoluto - tanto do consórcio quanto do seu "sócio", o poder público - para com as pessoas que, como eu, dependem do transporte público para irem trabalhar.

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  2. A muito tempo esse consórcio guaicurus devia ter saído mas enquanto ninguém desmascarar essa máfia desse consórcio com a prefeitura vai continuar assim.
    Esse poder público não tem aí com a população só com oq eles tá conseguindo por no bolso.

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  3. Breno Henrique28/6/23 16:42

    Eles fazem, pois o povo burro aceita, nunca reclamam.

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