Por Eric Moises
Definitivamente transporte coletivo não está na pauta de prioridades dos campo-grandenses. Em 2016 escrevi uma coluna que mostrava o descaso dos candidatos com o assunto, sem propostas concretas e muito menos adaptadas à realidade e as peculiaridades da cidade. Recentemente a equipe do Ligados no Transporte tentou realizar, sem êxito pela segunda vez, um protesto contra o aumento da tarifa. Apesar de toda a divulgação na mídia, o comparecimento de pessoas dispostas a protestar foi ínfimo, o que mostra que os políticos que gerem a cidade nada mais são do que reflexo da população que não se preocupa com a qualidade dos ônibus que utilizam.
Prefeito Marquinhos Trad na entrega dos novos ônibus em 2018. Foto: Prefeitura de Campo Grande
E nesse ambiente de nenhuma cobrança na área que Marquinhos Trad tem deixado a qualidade dos serviços prestados despencar, inclusive uma queda até mais evidente que os péssimos prefeitos anteriores.
Então vamos a alguns tópicos de acontecimentos desses dois últimos anos.
Agetran
Para comandar a Agetran Marquinhos nomeou Janine de Lima Bruno, engenheiro civil e especialista em trânsito. Se a primeira vista parece um nome técnico, Janine é um ex-funcionário de um alto cargo do Consórcio Guaicurus, ou seja, o lobo tomando conta do galinheiro. Vale lembrar que Janine também é ex-diretor de transporte da própria Agetran na gestão Olarte e se destacou por iniciar um onda de corte de tabelas de ônibus, fenômeno esse que se intensificou agora no comando Agetran.
Janine de Lima Bruno, atual presidente da Agetran, Foto: Revista da Gente
Menos ônibus circulando
Os cortes de tabela é a principal marca desses dois anos de Marquinhos/ Janine. Nesse período quase nenhuma linha da cidade escapou dos cortes, muitas linhas ou perderam um ônibus que rodava o dia inteiro, ou perderam um ônibus fim de semana, ou perderam reforços ou mesmo passaram a circular em períodos reduzidos. Não importa se a linha tinha demanda muito grande e vivia lotada ou se carregava pouca gente, quase todas passaram pela impiedosa tesoura.
Veículo na linha 218, que passou a circular apenas no horário de pico.
- Menos articulados
Se em 2012, na assinatura do contrato com o Consórcio Guaicurus, a promessa era de aumentar a frota de articulados, a realidade tem sido muito diferente. Em 2012, um dia após a assinatura do contrato, a cidade tinha 48 veículos articulados, chegando a 49 em 2013. A redução da frota desses veículos começou a ocorrer em 2014, na gestão Olarte, com a retirada de 12 veículos desses do sistema sendo substituídos por convencionais. Marquinhos assumiu a cidade com 37 veículos articulados, permitiu que 24 deles fossem aposentados sem que nenhum outro articulado viesse no lugar. Hoje a cidade conta somente com 13 desse veículos em uma única linha, a 087 (T. General Osório/ T. Guaicurus). As linhas 080 (T. Aero Rancho/ T. Gen. Osório) e 083 (T. Aero Rancho/ T. Nova Bahia - Expresso) deixaram de circular com articulados. Lembrem-se disso próximo vez que usarem essas linhas lotadas.
Linha 080 que deixou de receber articulados esse ano. Foto: Eric Moises
- O quase fim do serviço executivo
Se a principal promessa de campanha na área era ônibus com ar condicionado, quem já utilizava isso optando por pagar mais teve sua vida bastante dificultada. Na gestão Marquinhos todas as linhas executivas passaram por cortes ou mesmo deixaram de existir. O serviço que já vinha muito capenga conseguiu piorar e caminha a largos passos para ser extinto. Deixaram de existir as linhas 390 (Coophavila II), 290 (Mata do Jacinto/ Shopping Bosque dos Ipês), 291 (Nova Bahia/ Shopping Bosque dos Ipês) e 593 (Rouxinóis). As linhas 190 (Aero Rancho), 191 (Moreninhas), 292 (Nasser/ Coophasul), 491 (José Abrão) deixaram de operar integralmente e passaram a rodar só no pico. As linhas 592 (Universitária II) passou a operar em horários ainda mais reduzidos do que operava. As linhas 391 (Tarumã) perdeu algumas voltas durante o dia e as linhas 492 (Zé Pereira), 490 (Nova Campo Grande) bem como todas as outras deixaram de operar aos sábados. Ou seja, todas as linhas passaram por cortes bruscos e o serviço está cada vez mais próximo da extinção.
Veículo executivo operando a linha 490 que deixou de circular aos sábados. Foto: Eric Moises
- Dificuldade para integração.
A integração temporal na qual o usuário pode utilizar um segundo ônibus pagando uma única tarifa já não era uma das coisas mais fáceis de se entender devido a um sistema que nunca esclareceu exatamente de qual para qual linha é permitido fazer isso. A partir desse ano ela ficou ainda mais complicada, passando a ser permitida somente para quem tem um cartão cadastrado pelo Consórcio Guaicurus, burocratizando ainda mais esse suposto benefício e dificultando a vida de usuários esporádicos e pessoas com dificuldade ou pouco acesso a tecnologias.
- Terminal Moreninhas
Um problema que foi herdado de outras gestões e que Marquinhos resolveu... resolveu oficializar que não é mais terminal. O terminal irá virar uma estação de Peg-Fácil e quem não utiliza-lo nos horário de funcionamento dessa estação pagará duas tarifas ou, usando o cartão, perderá o direito de fazer mais uma integração em outro ponto da cidade.
Foto enviada por um dos nossos leitores da Estação Peg-Fácil sendo construída no Terminal Moreninhas
Tarifa
A principal alegação para tantos cortes nas linhas é segurar os custos operacionais para não aumentar ainda mais a tarifa, porém está nítido que não tem surtido muito efeito, pois a tarifa continua subindo e teve aumento acima da inflação de 2018. Aliás, com menos ônibus circulando e menor qualidade dos serviços, mais as pessoas procuram formas alternativas de se deslocar, com isso, menos passageiros utilizam ônibus, as receitas diminuem, a tarifa aumenta ainda mais, criando um ciclo que até agora tanto a prefeitura como o consórcio não fizeram nenhum movimento para ser quebrado.
Prefeito Marquinhos Trad em live ao portal Campo Grande News justificando o aumento da tarifa
- Ônibus com ar condicionado
Principal promessa de campanha de Marquinhos, os ônibus com ar condicionado chegaram e deveriam constar como um grande aspecto positivo dessa gestão, porém a dificuldade de encontrar um deles circulando tem praticamente anulado os efeitos positivos na qualidade do transporte da cidade. Foram 4 ônibus em 2017 e 10 em 2018, quantidade muito abaixo de qualquer promessa de campanha. Esse 14 ônibus são 2,5% da frota atual de 567 ônibus e corresponderam a 11,6% dos 121 ônibus que chegaram na cidade nos últimos 2 anos. Além de poucos, muitos deles mal circulam pela cidade, sendo escalados em linhas ou tabelas que circulam só no horário de pico, sem contar as vezes que os motoristas não ligam o ar condicionado. Essa situação já foi denunciada inúmeras vezes pelo Ligados, inclusive diretamente ao prefeito, mas nenhum providência foi tomada.
Ônibus com ar condicionado na apresentação dos novos ônibus adquiridos em 2018. Foto: Maycon Willian
Os únicos aspectos positivos desses dois anos foram os ônibus com ar condicionado, citados acima, e a instalação de diversos pontos de ônibus novos, mas que não adianta muito se o tempo de espera neles aumenta. As promessas são a reforma dos terminais e a conclusão dos corredores de ônibus e terminais previstos pelo PAC Mobilidade, projeto que se arrasta a anos e que só teve o recapeamento das Ruas Guia Lopes e Brilhante - mal - concluído até agora. Então Sr. prefeito Marcos Trad, lembre-se que estamos Ligados no Transporte.
Excelente texto, compartilho da mesma indignação. Pagamos por transportes, mas só pagamos mesmo porque os benefícios são promessas de natal.
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