O transporte coletivo em Campo Grande vem passando pela fase dos cortes, em que quase todas as linhas da cidade perderam tabelas operacionais, ou seja, passaram a operar com menos ônibus. E vendo a imensa quantidade de ônibus que ficam parados próximos aos terminais enquanto os usuários se espremem em veículos cada vez mais lotados ou se adaptam a intervalos maiores do que 1 hora, uma dúvida surgiu na equipe do Ligados no Transporte: quantos ônibus de fato rodam na cidade?
Para responder essa pergunta foi feita uma minuciosa e trabalhosa pesquisa em que foi analisado tabela por tabela de todas as linhas da cidade. Para entender melhor a dinâmica do transporte, o número de ônibus que circulam na cidade foi dividido em faixas de horário, que são:
Pico da manhã (04:30 às 08:00): essa faixa de operação que vai do início da operação até por volta das 8h é o horário mais crítico do transporte coletivo. É nela que temos a maior demanda do transporte, por juntar tanto trabalhadores quando estudantes e as linhas costumam ter seus momentos de maiores lotação.
Entre pico da manhã (08:00 às 11:00) e entre pico da tarde (13:00 as 16:00): horário de menor demanda, em que o fluxo de pessoas no transporte coletivo diminui, por praticamente não abranger entrada e saída de estudantes e ter pouco movimento também dos trabalhadores.
Veículos na reserva do terminal Guaicurus no entrepico.
Pico do almoço (11:00 às 13:00): faixa de horário em que a demanda sofre um acréscimo principalmente por conta de estudantes.
Pico da tarde (16:00 às 19:00): outro horário de grande demanda, por envolver tanto saída de trabalhadores quanto de estudantes e ainda pegar a entrada de estudantes noturnos (mais concentrados nas universidades). Possui alta demanda, porém menor que da manhã, pois a saída dos trabalhadores é distribuída em uma maior faixa horária.
Noite (19:00 às 00:30): Período mais tranquilo do transporte, envolvendo mais deslocamentos esporádicos e tendo um pico entre 22 e 23h (saída de trabalhadores e estudante) que pouco é reforçado pelo Consórcio Guaicurus.
Madrugada (00:30 às 04:30): Período atendido por linhas especiais, mais conhecidas como "corujões", tendo trajeto mais longos, dando voltas por diversos bairros e atendendo um demanda muito específica.
Em nossa análise o pico da manhã e do almoço foi prorrogado em 1 hora já que há ônibus de reforços que demoram um pouco mais para completar viagem.
Nas tabelas abaixo são apresentados os dados e logo a seguir uma análise crítica delas:
O que são reaproveitamentos?
São ônibus que iniciam viagem em uma linha e quando completam a volta passam a circular em outra, ou seja, são tabelas de linhas diferentes operadas por um único ônibus. Essa estratégia é muito utilizada de manhã, principalmente em linhas expressas, em que os ônibus iniciam a volta em uma das linhas de bairro e chegando no terminal passam a operar como uma das linhas expressas até o centro. Infelizmente as ordens de serviços feitas pela Agetran não traz informações precisas a respeito dos reaproveitamentos. A estimativa feita foi baseada em observações dos criteriosos colaboradores do Ligados que observam diariamente o movimento de ônibus na cidade.
Análise dos dados
Essas variações na quantidade de ônibus circulando durante o dia é comum e deve ocorrer em qualquer cidade, porém é notável como no caso Consórcio Guaicurus ela é muito grande e dificulta a vida daqueles que precisam de ônibus em horários de menor movimento, já que na maior parte do dia circula menos da metade da frota e aos fins de semana um terço ou menos.
No horário de pico, principalmente da manhã, as lotações são inevitáveis e podemos notar que o Consórcio opera quase no limite, considerando uma reserva técnica de ônibus em manutenção ou pra cobrir eventuais quebras. Porém essa operação "no limite" dura menos de 2 horas (entre 06:00 e 07:30) e no resto do dia boa parte dos ônibus recolhem. Os últimos cortes feitos vem se concentrando bastante nos entre picos e fins de semana, dificultando e desestimulando justamente a vida do público que o consórcio deveria recuperar para compensar a grande diminuição no número de usuários nos últimos anos. Enquanto no horário de pico as pessoas usam o transporte coletivo quase que por obrigação, no entre pico e aos fins de semana temos muita gente que precisaria do transporte para resolver seus problemas cotidianos ou visitar amigos e parentes, estilo de deslocamento que é hoje um dos principais responsáveis pelo sucesso de aplicativos como Uber.
Mais veículos parados do que em circulação: realidade do transporte de Campo Grande
Se um usuário que precisar fazer compras no centro ou visitar um parente em outro bairro for obrigado a esperar mais de 1 hora no ponto nas demoradas linhas convencionais ou alimentadoras, fazer longos deslocamentos devido a itinerários mal planejados ou mesmo encarar uma linha como 061 ou 070 lotadas em horários poucos usais, logo ficará desestimulado, buscando novas alternativas de se deslocar, deixando o uso do transporte somente para aqueles que não tem outra opção, no caso os estudantes (que não pagam tarifa) ou trabalhadores que ainda não conseguiram comprar um automóvel ou uma moto, mas que assim o farão quando tiver condições.
Ter muitos ônibus parados a curto prazo pode significar uma economia pro consórcio, por não gastar combustível, não desgastar peça e não exigir um funcionário na operação, porém a longo prazo significa menos passageiros usando o transporte, além de investimento mal feito no veículos, já que estes são responsáveis por trazer o retorno financeiro para as empresas, ou seja, gasta-se menos, porém não ganha-se nada.
Foda
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