Pular para o conteúdo principal

101 MELHORADA: é hora de acreditar de novo?

Nesta última terça-feira (11), a AGETRAN (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) realizou modificações na linha 101 - Terminal Guaicurus/Terminal Aero Rancho “B”. O trajeto, que atende bairros muito populosos, como Aero Rancho, Alves Pereira, Centro-Oeste e Centenário, passou a contar com mais um veículo operando fora dos horários de pico da manhã, do almoço e da tarde durante os dias úteis. A mudança, que pode aparentar insignificância, agrada (e muito) o usuário de ônibus da região: a linha, que antes só contava com 1 único veículo durante esses horários, passou a ter “só” 33 minutos de intervalo médio até 19h - bem melhor que os 63 minutos anteriores. Mas o que isso pode mudar para você?

Veículo comum da linha

Para os usuários frequentes da linha, a mudança é simples: com horários diferentes, deve-se ter atenção - e, se perder o ônibus, não será tão sofredor esperar pelo próximo quanto antes; para usuários frequentes de outras linhas das regiões atendidas pela 101, como 106, 108, 109 e 117, é uma notícia maravilhosa por fatores muito óbvios; mas o que é destacável é o que isso pode afetar em outras linhas, de outras regiões da cidade. A notícia, divulgada em primeira mão pelo Ligados no Transporte, florescem expectativas em volta de uma nova linhagem de pensamento da AGETRAN (e quiçá do Consórcio).

Em reuniões com o Consórcio Guaicurus e com órgãos subordinados à prefeitura, como a AGEREG (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos) e a própria AGETRAN, todos os gestores apresentaram negação à ideia de que diminuir frota seja uma reação pós queda de demanda que tende a diminuir ainda mais a demanda das linhas - pensamento esse um dos guiadores de nosso blog. Agora, antes tarde do que nunca, e colhendo do próprio veneno, os órgãos reguladores dão uma sobrevida a uma linha com intervalo altíssimo e que estava fadada ao sepultamento. De uma das linhas com maior potencial transportador da região, a 101 havia se tornado uma linha de pouquíssimos usuários, e cujos usuários, grande parte das vezes, eram usuários ocasionais.

E não foi só ela. As mais recentes mudanças no transporte público campo-grandense, aliás, foram de caráter midiático, como a criação do aplicativo PegFácil e a dissolução de várias linhas, fazendo 2 ou mais linhas praticamente iguais e utilizando até menos carros que a linha anterior. Sob um olhar mais utilitarista, pouca coisa foi evoluída. Nos últimos 10 anos, as mais importantes alterações foram a construção de estações  Peg-Fácil - na praça Ary Coelho, no Shopping Campo Grande, na Afonso Pena e o ponto de integração em frente à Escola Estadual Hércules Maymone - entre 2009 e 2012. Ademais, em novembro de 2013 as linhas 063 e 309 foram criadas. Apenas. De lá pra cá, nenhum terminal foi construído, poucas linhas começaram a operar com mais veículos, e, apesar de muitas linhas criadas (e muitas também extintas), o número de veículos em circulação decaiu consideravelmente, conforme relatamos na matéria “Quantos ônibus realmente circulam em Campo Grande?”.

Nesse meio-tempo, ainda, foram criadas algumas linhas, como as expressas 077, 078 e 084, a convencional 321 e as linhas estudantis 140 e 427. Além disso, algumas linhas como 083, 052, 506, 520 e 102 foram remodeladas. O problema é que essas alterações dissimulam muito mais do que realmente foram. Dos exemplos citados, apenas a 102 não veio acompanhada de cortes, e “coincidentemente” é uma linha bem rentável ao Consórcio hoje. A precariedade do transporte público sempre anda sendo tão grande, que causa um real espanto uma linha ainda ser melhorada, mesmo que pouco. A descrença em melhorias foi tamanha, que a é considerada um dos fatores que contribuíram mais para a fuga de passageiros, conforme relatado nessa matéria.

Pela desconfiança gerada, essa melhoria na 101 gera muita apreensão. Um dos grandes medos é o de usuários de outras linhas das regiões atendidas pela 101 sofrerem por efeitos colaterais após o ganho de tabela da 101. Afinal de contas, é bem incomum a AGETRAN “melhorar gratuitamente” uma linha. Por outro lado, a novidade também gera esperanças sobre linhas que fazem tarefa similar à da 101, e com intervalo ruim em grande parte dos dias, como 063 e 102.


Mesmo com o acréscimo na frota, o veículo de reforço que é reaproveitado na linha 089 continua operando sua única volta, nas manhãs dos dias úteis
Os resultados finais e possíveis impactos indiretos em outras linhas vão ser expostos no blog após algum tempo, mas espera-se que haja um crescimento gradual no número de usuários frequentes da linha, um passo muito grande em meio a uma grande fase de decréscimo no número de usuários do sistema. Só não é acreditável que haja um crescimento alto ou rápido de demanda pelo fato de não ter sido realizada uma única divulgação sequer da mudança, nem Consórcio Guaicurus, nem pela AGETRAN. Por: Maycon F. Mota e Alexandre Coelho.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sistema de cores do transporte de Campo Grande: pode enterrar.

Os mais saudosistas se lembram com carinho quando em 1992 foi inaugurado o SIT em Campo Grande, sistema integrado de transportes, com a construção dos terminais Bandeirantes e General Osório. Este sistema, baseado no de Curitiba, trouxe uma nova divisão de linhas e alterou a pintura dos ônibus, antes cada empresa tinha sua pintura, após a implementação deste sistema, a pintura foi padronizada com 4 cores, eram elas: Amarelo: Linhas convencionais, que fazem trajeto centro-bairro.  Vermelho: Linhas troncais, que fazem trajeto terminal-terminal passando pelo centro ou terminal-centro.  Verde: Linhas interbairros, que fazem trajeto terminal-terminal mas sem passar pelo centro.  Azuis: Linhas alimentadoras, fazem trajeto bairro-terminal.

Análise dos dados da pesquisa Origem / Destino de Campo Grande - MS Parte 2

Na segunda parte das análises dos dados da pesquisa Origem / Destino encomendada pelo Consórcio Guaicurus, focaremos na origem destino propriamente dita, ou seja, de onde para onde as pessoas se movem na cidade. Essas informações seriam muito úteis para o replanejamento das linhas de ônibus da cidade, mas como dito nas análises anteriores, o relatório traz números com pouquíssimas análises em cima deles. Nesse texto tentamos simplificar ou pelo menos trabalhar esses números de forma diferente para obter mais informações.  Foto na formatação original de uma das tabelas presente na pesquisa e apresentada nessa análise. A  cidade foi dividida em nove regiões, numerada na pesquisa da seguinte forma:

Artigo: Manifesto contra os letreiros laterais

Ônibus de modelo mais recente em Campo Grande, com letreiro eletrônico próximo da porta ao invés de uma placa com itinerário da linha. (Autor: Eric Moises Martins). Todos que andam de ônibus em Campo Grande já se depararam com aquela plaquinha que fica próxima a porta de entrada dos ônibus, com o nome das ruas que fazem parte do itinerário da linha. Já repararam também que desde 2011 passaram a chegar ônibus que no lugar da plaquinha lateral, tem um letreiro eletrônico indicando o nome da linha. Minha pergunta é: qual a vantagem de se ter um letreiro eletrônico lateral indicando a mesma coisa que o letreiro frontal, o nome da linha?