Por: Eric Moises
Em 2012,
quando o Consórcio Guaicurus ganhou a licitação para explorar o transporte
coletivo da cidade, uma das exigências contratuais era a realização de uma
pesquisa sobre a matriz origem/ destino das pessoas que moram em Campo Grande.
Cinco anos depois, após diversas desculpas e uma queda de quase 20% do número
de passageiros pagantes no transporte coletivo da cidade, o Consórcio contratou
os escritórios paulista Qualibus e IPK Engenharia para realização dessa
pesquisa, cujo relatório final a equipe do Ligados no Transporte conseguiu
acesso por meio da Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços
Públicos).
Uma das
constantes brigas da equipe do Ligados com a prefeitura e o Consórcio é o
replanejamento de linhas da cidade, muitas delas com traçados antigos, feitos
na década de 90 e cheio dos puxadinhos para atender novos bairros, além de
termos um sistema de transporte muito focado no deslocamento bairro/ centro.
Essa pesquisa viria nos fornecer dados de como estão sendo feitos os deslocamentos
na cidade hoje e novas demandas de trajetos que tem surgido.
A pesquisa
foi realizada em 2017 e o relatório final divulgado em agosto de 2018 e
utilizou duas metodologias de colheita de dados. A primeira foi uma pesquisa
amostral domiciliar, em que os agente contratados escolhiam algumas casas em
diversas regiões da cidade e entrevistava seus moradores preenchendo uma ficha
com dados a respeito das pessoas que moram naquele domicílio, a renda e os
principais deslocamentos (seja ele de carro, ônibus, bicicleta ou a pé)
realizado por todas essas pessoas pelos mais diversos motivos como trabalho,
estudo e lazer. A segunda base de dados da pesquisa utilizou os “SmartCards”,
que são os cartões utilizados para passar nas catracas dos ônibus, sendo que os
escritórios tiveram acesso ao número dos cartões, os horários e as linhas que
eles foram utilizados e puderam cruzar esses dados com as informações obtida
nos GPS de cada ônibus, permitindo também localizar os locais em que foram
realizados os embarques.
Boa parte
das 102 páginas do relatório explica a metodologia usada na primeira parte de
colheita de dados, como por exemplo, como são contado o número de famílias
dentro um domicilio, quais são os critérios utilizados para considerar o que é
um banheiro, uma lava-roupa e etc. O relatório específica também como deveria
ser a abordagem do agente e traz o modelo da ficha que esse preenchia em cada
entrevista. Já os dados colhidos pelos smartcards foram tabulados em um
software com acesso restrito somente a pessoas que possuam login e senha
fornecida pelos escritórios que realizaram a pesquisa.
O relatório
traz uma síntese dos resultados bem superficial. São apresentados alguns dados
da pesquisa amostral domiciliar com análise muito simplificada dos resultados e
pequenas comparações com uma pesquisa semelhante realizada em Campinas - SP em
2012. Já em relação aos números coletados a partir dos "smartcards",
são apresentadas duas tabelas, comparando o bairro da cidade em que a pessoa
usa o cartão com o bairro da cidade em que a mesma pessoa o utiliza pela
segunda vez. Dados mais detalhados, em que poderíamos saber o comportamento
dos usuários linha a linha só estão disponível para quem tem acesso ao software
utilizado na tabulação dessas informações. Não é feita nenhuma análise em cima
dessas informações.
Para quem
tinha esperança que essa pesquisa pudesse trazer mudança no traçado das linhas
de ônibus de Campo Grande, o fato de só trazer números, com pouquíssimas
interpretações e análises deles, é um banho de água fria, já que a utilização
desses números na melhoria do atendimento depende da interpretação de pessoas
da Agetran e do Consórcio Guaicurus. Na Agetran predomina indicações políticas
de pessoas sem histórico de atuação na área e muitas vezes que sequer utilizam
ônibus ou visitam terminais para saber in loco a situação do transporte
coletivo da cidade, enquanto no Consórcio Guaicurus predomina uma mentalidade
antiga, que não busca atrair passageiros pela melhoria da qualidade do serviço,
tratando os usuários como pessoas que se deslocam de ônibus por não ter outra
opção e que tem que se adequar a operação realizada por eles.
Tabela com
alguns dados apresentados no relatório e comparando com pesquisa semelhante
feita em Campinas
Um dos raríssimos casos que o relatório traz uma análise dos dados obtidos
|
Em breve,
nós da Equipe do Ligados no Transporte iremos trazer um texto fazendo
nossa própria análise dos números que temos acesso, buscando melhorar o nível
da discussão de transporte coletivo da nossa cidade. Por isso, continue com a
gente, Ligados no Transporte.
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